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Volta às aulas na Faculdade Intercultural Indígena prioriza as pessoas
GESTÃO
Volta às aulas na Faculdade Intercultural Indígena prioriza as pessoas
18/02/2019 18:26:47
por Hemilia Maia
Foto por: Moisés Bandeira

A presença dos acadêmicos no prédio da antiga Escola Agrícola Municipal de Barra do Bugres, espaço ocupado pela Faculdade Intercultural Indígena (Faind) há 19 anos, vai devolvendo vida ao lugar que há um ano sentia falta de seus alunos. Embora a Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) venha sofrendo com atrasos de repasse financeiro, há alguns anos, a retomada das aulas com recursos próprios foi uma decisão de gestão adotada, no final de 2018, pela então reitora Ana Di Renzo e o reitor eleito Rodrigo Zanin, que assumiu a gestão em janeiro desse ano com foco nas pessoas e na formação delas.

Nesta segunda-feira (18) reiniciaram as aulas. Ao todo, os 120 acadêmicos indígenas matriculados nos cursos de licenciatura Intercultural Indígena e Pedagogia Intercultural, vindos de diversos municípios do estado, chegarão de suas aldeias à faculdade.

Pertencentes a 23 etnias indígenas de Mato Grosso, os alunos não realizaram as etapas de 2018 em virtude da falta de recursos que deveriam ter sido repassados pela Secretaria de Estado de Educação (Seduc) à Unemat, com quem possui dois acordos de cooperação junto a Faind. Mesmo sem os repasses, o reitor reitera que a Unemat irá abraçar a Faind e dar continuidade as etapas numa tentativa de reparar os prejuízos que os alunos experimentaram com a paralisação. Na próxima sexta-feira (22) Rodrigo Zanin irá a Barra do Bugres para conversar com os acadêmicos da Faind que hoje foram recebidos pelo Diretor de Gestão e Educação Indígena, professor Adailton Alves da Silva, e os demais professores dos cursos.

O desejo de abandonar o curso foi mais forte para cinco alunos. O mesmo desejo passou pela cabeça de muitos outros que já estavam presentes nesta segunda para a etapa presencial, com aulas em período integral, até 16 de março. Mas, o maior diferencial dos acadêmicos da Faind não está na origem indígena e sim no compromisso com sua gente.

Eles já são professores em suas aldeias quando prestam o vestibular para a Faind e já foram indicados por seus líderes indígenas a prestá-lo. A escolha do curso também passa pela necessidade da aldeia a que pertencem para que ocorra um equilíbrio entre oferta e demanda das necessidades de cada uma delas. A acadêmica Ana Cláudia Awokopytyga, da aldeia Urubu Branco, etnia Tapirapé, que cursa Licenciatura em Pedagogia Intercultural só não desistiu para não desapontar os pais. “Sou a única dos 13 filhos estudando. Meus pais têm muito orgulho de mim. Hoje é só alegria recomeçar”, contou Ana Cláudia.

Membros da Unemat participarão esta tarde, em Cuiabá, de reunião com o Executivo para discutir questões que envolvam políticas indígenas, assim como a Faind. A secretária de Educação, professora Marioneide Kliemaschewsk, a frente da pasta desde a gestão do ex-governador Pedro Taques, informou por meio de ofício que não há dinheiro para honrar os termos de cooperação com a Unemat. Para o reitor Rodrigo Zanin as questões indígenas e a Faculdade Intercultural não podem mais esperar.

Prejuízos pedagógicos – “Agora nós estamos em busca do tempo perdido”, falou o professor da Faind Wellington Pedrosa Quintino com relação as etapas de 2018 que não foram realizadas. “Essa paralisação é péssima do ponto de vista pedagógico”, acrescentou. A princípio serão discutidas formas de repor para que os cursos sejam concluídos dentro do prazo de cinco anos. Isais Munis Batista, também professor da Faculdade Intercultural explicou que parte das disciplinas pressupõe as atividades realizadas nas aldeias durante as etapas intermediárias. “Esse gancho, se perde no tempo, a distância de três meses para mais de um ano é um desastre pedagógico”, lamentou Batista. A professora e coordenadora do curso de Pedagogia Intercultural, Waldinéia Antunes de Alcântara Ferreira, descreveu a situação como um total desrespeito. “Uma tragédia com perdas para os alunos e de alunos”, desabafou.

Prejuízos pessoais – O acadêmico Tiago Tserewatawe, da etnia Xavante, da terra indígena São Marcos cursa Licenciatura Intercultural Indígena e descreveu o quanto estas paralisações atrasam suas expectativas de vida. “Cada pessoa tem um plano para o ano. A gente frequenta o curso num período determinado para nos organizar direitinho. Fazemos o curso e, após concluir, esperamos uma vida melhor na parte financeira e na parte de educação. A educação nos torna mais experientes para levarmos conhecimento para os Xavantes, para nossa família. Para levarmos conhecimentos bons para nossa aldeia,” explicou o aluno.

 

 

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