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Comunidade acadêmica discute o golpe de 64 no Encontro Mato-grossense de Letras
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Professor da USP abre ciclo de palestras e mini-cursos no 5º EMEL
Comunidade acadêmica discute o golpe de 64 no Encontro Mato-grossense de Letras
23/04/2004 19:01:52
por Coordenadoria de Comunicação Social
Professor da USP, Flávio Aguiar, em palestra na Unemat
Professor da USP, Flávio Aguiar, em palestra na Unemat

A palestra de abertura do Encontro mato-grossense dos estudantes de Letras (EMEL) da Unemat ocorreu hoje às 8h no pátio do campus universitário Jane Vanini, em Cáceres. O professor de literatura brasileira da USP, doutor Flávio Aguiar, falou sobre o golpe de 64, suas conseqüências na vida política e cultural do País e as transformações no comportamento da sociedade.

“A censura não era apenas o ataque silenciador às vozes dissonantes, houve uma autocensura por parte das pessoas. A ditadura não só suprimiu um Brasil, mas criou outro”, defende Aguiar.

Ele diz que aspectos construtivos da censura, diferente dos supressivos, causaram efeitos duradouros e construíram um modelo de Brasil utilizando jargões até hoje bem conhecidos: o Brasil do milagre econômico e o Brasil do tricampeonato mundial são dois deles. “No entanto, foi criado, à margem do discurso oficial, um País pequeno e mesquinho”, assinala.

Para o professor, a sociedade passou por um processo de negação da realidade e compara a situação a um drama doméstico. “É como um animal que fica no meio da sala e ninguém o afasta, apenas fingem não vê-lo”, declara.

Flávio disse ainda que alguns termos utilizados pela ditadura causavam um sentimento de temor e confusão nas pessoas. Tudo o que era dito poderia ser escrito com aspas devido à distorção da realidade no emprego de determinados termos.

“Mesmo não tendo um sentido definido, a palavra recrudescimento era ameaçadora, sabia-se que vinha cacete. Era uma forma de combater qualquer iniciativa popular ou ação caracterizada como anarquista, de subversão da ordem estabelecida”, revela.

Na sua avaliação, o que a ditadura produz de pior é a impressão de que não vai acabar e com isso o tempo parece não passar. “Foram deixadas marcas indeléveis em cada um nós que viveu aquela época. O regime político não existe mais, porém a luta contra a ditadura não acabou”.

Segundo o diretor do Instituto de Linguagens, Isaac Newton Ramos, o debate e as informações sobre esse período da história brasileira colaboram na formação do acadêmico de Letras, estimula a leitura e o aproxima de uma época onde a maturidade política e intelectual eram marcas de uma geração. “Esse encontro promovido pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE) e o centro acadêmico de Letras acaba sendo bem produtivo, pois atende aos acadêmicos e professores da Universidade”, finaliza.

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