“Propomos uma escola que incorpore o saber dos anciãos, as características da educação indígena ancestral, integrada à comunidade, e que resgate da escola do branco os saberes necessários a seu empowerment e a prática da Educação Libertadora” (ARGUELLO, p.92, 2001). É com este olhar cuidadoso, amoroso e responsável por uma iniciativa de educação em ciências para os povos indígenas, especialmente de Mato Grosso, que a Unemat lamenta o falecimento do professor Arguello.
Morre aos 84 anos, o professor doutor, físico e astrônomo argentino Carlos Alfredo Arguello, um dos fundadores da Unicamp e criador do planetário da cidade de Campinas.
Arguello participou ativamente, desde o início dos anos 1980, em projetos educacionais no Estado de Mato Grosso. Para ele, “Educar em ciências é vivenciar no aluno o processo de Fazer Ciências, de Viver Ciências [...]”, e deu exemplos, colocando a mão na massa em projetos como o Inajá e o Homem Natureza, cursos de habilitação de professores leigos para o Magistério. E o projeto Tucum, voltado para a formação de professores indígenas. Na primeira turma do Projeto Inajá, o professor Arguello e outros professores da Unicamp, viabilizaram a realização de uma etapa de aulas dos alunos do Inajá na Unicamp. Ali, a experiência de “fazer ciência com as mãos” marcou profundamente os cursistas do Inajá e sua forma de organizar o ensino com pesquisa.
Na Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), atuou no projeto Licenciatura Plenas Parceladas (Câmpus Universitário do Médio Araguaia, em Luciara – 1993-1997) e na Faculdade Intercultural Indígena (Câmpus Universitário Deputado Estadual Renê Barbour, em Barra do Bugres – 2000-2005), em ambas atuando como professor e consultor na área de ciências. “Arguello era aquele professor que ensinava ciência como estivesse brincando e fazia isso com muito entusiasmo. Não tinha como não se envolver nas suas brincadeiras!”, lembra o professor Adailton da Silva.
Como professor visitante do Curso de Matemática no Câmpus Universitário Jani Vanini, em Cáceres, atuou no que era a sua grande paixão: a divulgação científica, buscando a ampliação dos conhecimentos produzidos para fora da Universidade, para que as pessoas pudessem acessar esses conhecimentos. O prof. Arguello também explicitava a importância de se considerar os conhecimentos, produzidos fora da Universidade, os etnoconhecimentos. Incentivou alunos e professores a olhar o céu, não só com romantismo, mas com seus conhecimentos astronômicos; mostrou a importância do ensino por investigação, da construção de experimentos para o ensino de ciências e colocou estas ideias em prática, incentivando e acompanhando as atividades do Centro de Educação e Investigação em Ciências e Matemática (Ceicim).
Participou da comissão que elaborou a proposta de Pós-Graduação em Ciências Ambientais de Cáceres e de seu regimento; organizou o Comitê de Avaliação de Relatórios de Pesquisa (CARRP) e do Conselho Temático Consultivo da Faculdade de Ciências Exatas.
A comunidade acadêmica da Unemat lamenta profundamente a perda desse professor cientista que deixou, como exemplo, o seu senso de humor, sua simplicidade seu profundo conhecimento científico, sem fazer alarde de todos os títulos acadêmicos que possuía; dedicou seu tempo à educação para a formação de pessoas sem se importar com as dificuldades de se chegar até elas, de recursos ou de diferenças culturais. Ao se dedicar à educação em ciências, especialmente no interior de Mato Grosso, para os povos indígenas e para a ciência na Unemat, fez da sua história de vida uma presença histórica na Instituição.
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