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Pesquisadores da Unemat buscam respostas sobre longevidade e ecolocalização em morcegos


Pesquisadores da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) vêm desenvolvendo o primeiro projeto de análise comparativa e montagem de um genoma completo de mamífero no Estado de Mato Grosso. Nos primeiros dois anos de pesquisa foram gerados as sequências de DNA de um morcego da espécie Desmodus rotundus, da família Phyllostomidae, conhecido popularmente como morcego-vampiro. Ainda em 2019 a sequência será comparada com o genoma de outras 15 famílias de morcegos disponíveis em bancos de dados públicos e servirá de base para o artigo que será escrito pelos pesquisadores.



Os professores da Unemat do câmpus de Nova Xavantina, Joaquim Manoel da Silva, doutor em Genética e Biologia Molecular, e Karina de Cassia Faria, doutora em Genética, contam com a parceria dos laboratórios Multiusuário de Bioinformática (LMB) da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e Central de Tecnologias de Alto Desempenho em Ciências da Vida (Lactad) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e de acadêmicos da Unemat para desenvolver a pesquisa.



Silva contou que os morcegos, mamíferos que constituem o grupo dos quirópteros, foram escolhidos em função de três aspectos: por serem essenciais como polinizadores, dispersores de sementes e no controle de pragas de ecossistemas; pelas habilidades sensoriais de ecolocalização que funcionam como um sonar, de onde podem ser obtidos conhecimentos sobre as doenças dos sentidos em humanos, como cegueira e surdez; e pela longevidade.



“Um morcego pode viver até nove vezes mais do que o esperado, apesar da taxa metabólica muito alta. Um Myotis brandtii (popularmente conhecido como morcego-de-orelhas-de-rato) pode viver até 42 anos. Há 19 espécies de mamíferos que vivem mais do que o esperado, dado seu tamanho: o homem é uma delas e as outras 18 são de morcegos. Portanto, eles devem ter algo dentro de seu DNA que permite a eles lidar com o estresse metabólico, especialmente o voo. E isso é uma das coisas mais especiais que morcegos fazem como mamíferos: eles voam. O voo é uma função essencialmente complicada e requer alto gasto energético do metabolismo”, explicou Silva.



Para o artigo a ideia dos pesquisadores é explorar os aspectos do sistema imune, de longevidade, da dieta e dos genes associados à ecolocalização do morcego-vampiro em comparação com outras famílias de morcego. Aparentemente o morcego-vampiro está entre os morcegos que vivem muitos anos, embora não hibernem, e se alimentem exclusivamente de sangue, diferente do morcego-de-orelhas-de-rato que hiberna e se alimenta apenas de insetos.



A metodologia utilizada na pesquisa envolveu a remoção de material genético de um indivíduo macho da espécie morcego-vampiro, o sequenciamento do DNA e a montagem do genoma. As amostras extraídas do cérebro do morcego foram conservadas em álcool absoluto. O morcego foi coletado no Parque do Bacaba, em Nova Xavantina, com licença ambiental no Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), e depositado na coleção de quirópteros da Unemat.



Participam do projeto o doutor em Matemática Aplicada, Michel Eduardo Beleza Yamagishi, pesquisador da Embrapa junto ao LMB, três membros do Lactad: Gustavo Gilson Lacerda Costa e Osvaldo Reis Junior, doutorandos em Genética e Biologia Molecular, e Leandro Nascimento, doutorando em Bioinformática e da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) participam os doutores em Engenharia Elétrica, Bráulio Coelho Ávila, em Controle de Sistemas, Edson Emilio Scalabrin, e em Genética e Biologia Molecular, Roberto Hirochi Herai.



A pesquisa conta com financiamento da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Mato Grosso (Fapemat).



Contato para mais informações: joaquimmanoel@unemat.br



Morcegos: Verdades e mitos – A pesquisa também rendeu um projeto de extensão. O projeto foi realizado pelo mestrando em Biodiversidade e Agroecossistemas Amazônicos da Unemat, Iago Manuelson dos Santos Luz, enquanto acadêmico em Ciências Biológicas, e os professores da Unemat, Joaquim Manoel da Silva e Karina de Cassia Faria. Durante um ano, no período de julho de 2017 a junho de 2018, os pesquisadores estiveram nas oito escolas estaduais e municipais de Nova Xavantina, onde trabalharam com alunos do Ensino Médio e Fundamental.



Durante as visitas foram promovidas a importância ecológica e a necessidade de preservação das espécies de morcegos. Os alunos conheceram diferentes espécies de morcegos encontrados no Parque do Bacaba e tiveram corrigidos conceitos distorcidos sobre os morcegos, assim como o esclarecimento de mitos e lendas. Os pesquisadores avaliaram quase 800 redações escritas por estes alunos nos momentos pré e pós-trabalho desenvolvido com resultados surpreendentes.



De acordo com os pesquisadores, os morcegos tradicionalmente são alvo de perseguição e discriminação por pessoas que desconhecem sua importância ambiental e, por isso, a necessidade de trabalhar a conscientização. “Constatamos que a maioria dos alunos abordados possuía conhecimento distorcido, por concepções fantasiosas e maléficas, alimentado na maioria das vezes pela mídia e conhecimentos populares. Após nosso trabalho, observamos a mudança na percepção deles através dos argumentos que demonstravam afetividade por esses animais e a importância de sua preservação”, constatou Silva.



 


Por: Hemilia Maia