Em 27 de agosto a Unemat recebeu o ex-reitor da Universidade Federal do ABC (UFABC), Klaus Capelle, em Cuiabá. Durante etapa do evento “Unemat + 40”, alusivo aos 40 anos completados pela Instituição em 20 de julho, o professor apresentou a UFABC e os modelos de formação que a constituíram, para todos os gestores de todos os câmpus e da sede administrativa da Instituição. A temática da palestra ainda avançou, em um grande diálogo, durante toda a manhã do dia 28.
O professor apresentou as principais inovações institucionais da UFABC como uma proposta à reflexão, ao mesmo tempo em que defendeu que as universidades se inspirem em modelos de ecossistemas, onde seus processos formativos não se constituam de maneira isolada, presos a modelos pré-concebidos, “caixinhas”. De acordo com Capelle, as universidades deveriam se compreender num modelo de ecossistemas, em que os modelos formativos fossem integrados, onde uma formação interagisse com outra área do conhecimento e as áreas interagissem entre si.
Fundada em 2006, a UFABC está sediada nos municípios de Santo André e São Bernardo do Campo, em São Paulo, com foco em ciências e tecnologia. A conceituada instituição brasileira, que aparece em excelentes posições em rankings nacionais e internacionais, só contrata professores doutores e em regime de dedicação exclusiva. Dentro de três centros interdisciplinares são ofertadas 68 opções de formação.
O reitor eleito da Unemat para a gestão 2019/2022, Rodrigo Zanin, que já conhecia o formato da UFABC, disse ser um entusiasta dos modelos inovadores de formação e vê na interdisciplinaridade o melhor conceito de integração de áreas. “Sonho que a Unemat caminhe para este modelo. Que as disciplinas possam ser da Unemat e não do curso. Temos que entender que o professor oferece conteúdo, mas quem faz o curso e as disciplinas é o aluno”, considerou Zanin.
Em nenhum momento a universidade departamental, a tradicional, como é o caso da Unemat, foi desmerecida. Para os que defendem uma universidade onde o aluno é empreendedor de sua formação, a universidade tradicional tem sua importância, “mas temos que transcender o que aprendemos”, explicou o professor Capelle.
De acordo com a reitora da Unemat, professora Ana Di Renzo, a presença do professor Capelle com a apresentação da “UFABC: Um novo modelo universitário para o Século XXI” vem ao encontro dos anseios da gestão. “Nós estamos refletindo sobre o futuro da Unemat, sobre os próximos 40 anos, alimentando nosso repertório de conhecimento. É preciso pensar como aprender e como ensinar, se revisitar e repensar como fazer o processo de reconstrução do conhecimento, dentro de nossas particularidades e especificidades”, salientou a gestora.
Independente do modelo, Capelle considera que as universidades públicas sempre serão as universidades de excelência. “As privadas buscam lucro financeiro em curto prazo. As públicas atingem lucro, a longo prazo, em larga escala de desenvolvimento para um país”, admitiu o professor.
Na visão de Capelle para a Unemat adotar um modelo mais interdisciplinar e menos departamental seria necessário, de acordo com ele, muita reflexão e diálogo. “Na UFABC a luta hoje é manter o modelo livre de caixinhas. Mas nós já nascemos sem muros. O desafio é maior quando é necessário derrubar os muros. Os muros são limitadores, limitam alunos e pesquisadores. Tornar estes muros permeáveis já seria um grande avanço”, considerou o professor, que trocou o efetivo exercício na Universidade de São Paulo (USP) pela “paixão” que sentiu pelo projeto interdisciplinar proposto na UFABC onde se viu desafiado em construir algo novo.
Inovações - Entre as principais inovações deste modelo de universidade interdisciplinar estão a ausência de departamentos; dois bacharelados interdisciplinares como únicos cursos de entrada; cursos com temáticas inovadoras e interdisciplinares na graduação e na pós-graduação; flexibilidade curricular onde disciplinas pertencem à universidade; cerca de 50% das disciplinas são livres e optativas; todas as disciplinas com ausência de pré-requisitos; retardação da opção profissional do estudante, onde a área de formação passa a ser o resultado das escolhas do aluno durante sua passagem pela universidade; sistema quadrimestral no lugar do semestral; laboratório e centrais experimentais multiusuários; programas inovadores do começo ao fim; políticas institucionais de inovação e utilização de conceitos.
Klaus Capelle - Possui mestrado, doutorado e livre-docência em Física pela Universidade de Wurtzburgo, na Alemanha, e um segundo mestrado em Física pela Universidade do Novo México, nos Estados Unidos. De 2003 a 2009 foi professor Instituto de Física de São Carlos da Universidade de São Paulo (IFSC/USP) e, desde setembro de 2009, é professor titular da UFABC.
Na UFABC já foi pró-reitor de Pesquisa, e reitor no período de 2014 a 2018. Como reitor integrou a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), onde foi idealizador e primeiro presidente da Comissão das Novas Universidades Federais do Brasil e presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação e Empreendedorismo. Atualmente é diretor científico do Projeto Ciência, no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPem).
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