Um olhar sobre o conhecimento popular dos pantaneiros que vivem nos diversos tipos de paisagem do Pantanal matogrossense e o manejo da biodiversidade para subsistência é o tema do artigo científico da professora Iara Galdino , professora de Arquitetura da Unemat em Barra do Bugres e aluna do Pós-graduação em Ecologia e Conservação da Biodiversidade da UFMT. Seu artigo foi premiado recentemente pela Sociedade Brasileira de Etnobiologia e Etnoecologia. O prêmio Darrel Posey foi criado este ano e escolhe os melhores artigos originados de monografias , mestrados e doutorados.
Durante 2 anos, Iara buscou levantar o saber dos ribeirinhos de uma das mais isoladas comunidades pantaneiras da região de Barão de Melgaço, conhecida por “Cuiabá-Mirim’. Percorrendo a comunidade, formada por 47 famílias que por muitas gerações vivem ao longo da margem direita do rio Cuiabá, a pesquisa buscou captar o conhecimento ecológico de 20 líderes da comunidade a cerca de 14 unidades de paisagem: brejo, baía, rio, lagoa, morro, mata e corixo, entre outras. No cotidiano dos ribeirinhos, essas paisagens se resumem em Alto, Baixada e Aquática.
Em cada uma das unidades , os pantaneiros das margens do rio adotaram por séculos práticas de manejo e regras culturais como mecanismos de conservação da biodiversidade e de sobrevivência. Não haviam barreiras para chegar aos morros em busca de pedras e madeira para a confecção de casas. O gado vivia solto.
Na cheia, os moradores contam que usavam as unidades alagáveis para a pesca, coleta de iscas e turismo. Na seca são usadas para extração de madeira para lenha e casas, coleta de plantas medicinais e agricultura em pequena escala. As unidades de paisagem não alagáveis são usadas para caça e extração de madeira e pedra para construção de moradias.
Hoje, segundo a pesquisa de Iara, atualmente professora da Unemat em Barra do Bugres, as mudanças nas formas de apropriação das áreas do Pantanal reduziu as áreas comuns e impediu a agricultura. A pesca comercial também uma das ameaças à continuidade do uso das variadas unidades de paisagem por ser hoje a principal atividade de sobrevivência econômica. “O conhecimento sobre o ambiente é resultado de umaa estreita e longa relação de subsistência. No entanto a pressão do mercado fez com que as atividades de subsistência perdessem espaço para as atividades comerciais como a pesca”,comenta. Iara conta que a pesquisa de conhecimento ecológico da comunidade se insere também num estudo maior coordenado pela professora Carolina Joana da Silva , coordenadora do mestrado de Ciências Ambientais da Unemat, e financiado pela Fapemat que verifica as mudanças ecológicas e culturais do sistema hídrico dos rios Cuiabá e Paraguai. As mudanças ambientais sentidas pelos moradores de Cuiabá-Mirim são atribuídas ao assoreamento do rio, turismo, proibição da caça e a Usina Hidrelétrica de Manso.
Aterro de Índio
O uso de aterros ou diques no Pantanal é uma prática utilizada há mais de mil anos pelos antigos Xarayés e depois pelos guatós. Em Cuiabá Mirim, são chamados de aterro de índio, aterro de bugre ou cacarutos, estes apontados como aterros mais antigos , deixados de herança pelos povos indígenas antes da colonização e que circundam toda a comunidade. Esta é considerada uma obra de engenharia essencial para os que vivem em uma área onde alteram-se inundações estacionais e períodos com drástica escassez de água. Entre estas obras, destacam-se: campos elevados para plantio, canais e calçadas par transporte e comunicação, diques, represas e sistemas de drenagem para o controle das águas, plataformas elevadas para habitação.
A origem
A comunidade de Cuiabá Mirim tem a origem associada a história da Fazenda Flexas e a área era de propriedade da fazenda. No local, viviam famílias que trabalhavam na lavoura de cana-de-açucar ou que assistiram de perto o auge da produção de açúcar e aguardente no Pantanal. Nenhum dos moradores tem título de propriedade do lote e vivem numa área doada pelo fazendeiro mas que fica dentro da mata ciliar do rio Cuiabá. Ao todo são 260 moradores vivendo em casas bem simples e com apenas uma escola que atende alunos até a 4ª série. Uma vez por mês os moradores saem de barco e andam duas horas para chegar até Barão de Melgaço e fazer compras.
Josana Salles –jornalista
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