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Unemat e universidade britânica analisam resiliência de professores de Língua Inglesa
UNEMAT FAZ PESQUISA
Unemat e universidade britânica analisam resiliência de professores de Língua Inglesa
19/12/2019 19:09:20
por Nataniel Zanferrari
A pesquisa foi uma parceria entre a Unemat e a Universidade de Hertfordshire (foto), no Reino Unido
A pesquisa foi uma parceria entre a Unemat e a Universidade de Hertfordshire (foto), no Reino Unido

Uma pesquisa realizada pela Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) em parceria com a britânica Universidade de Hertfordshire registrou a resiliência dos professores de Língua Inglesa no Brasil e no Reino Unido. O projeto analisa narrativas orais e visuais de professores de inglês em serviço, para melhor entender a interação entre resiliência e identidade profissional.

O projeto de pesquisa, realizado em conjunto pelas professoras e pesquisadoras Ana Carolina de Laurentiis Brandão, da Unemat, e Gwyneth James, da Universidade de Hertfordshire, é intitulado ‘ELT teachers’ stories of resilience’ (do inglês, ‘Histórias de resiliência de professores de Língua Inglesa’ e foi financiado pelo Conselho Britânico.

A pesquisa teve como propósito maior entender como professores de inglês no Brasil e no Reino Unido em início de carreira desenvolvem e exercem sua resiliência na sala de aula. Ana Carolina explica que o projeto se configura como uma oportunidade de não só trocar ideias e experiências profissionais, mas de também compreender melhor como diferentes contextos de ensino-aprendizagem de Língua Inglesa se constituem.

A pesquisa está disponível no site do Conselho Britânico (British Council), principal entidade do governo do Reino Unido para divulgação cultural, educacional e científica do país, que financiou a pesquisa.

Os resultados da pesquisa podem ser acessados clicando aqui.

 

A pesquisa

De acordo com a pesquisadora Ana Carolina, há algumas diferenças já na formação dos professores brasileiros em comparação aos britânicos. “Os professores aqui no Brasil são graduados em Licenciatura em Letras. Lá eles fazem um bacharelado em Línguas e uma espécie de pós-graduação em Educação para atuar nas escolas, ou cursos ofertados na Universidade de Cambridge para atuar em escolas de idiomas”, explica a professora.

O intuito da pesquisa era analisar professores que atuassem no ensino de Inglês como língua estrangeira, portanto foram selecionados três professores brasileiros que atuam em escolas de ensino público no município de Alto Araguaia e dois professores britânicos e uma professora holandesa que atuam em escolas de idiomas no Reino Unido, dos quais foram coletadas narrativas em formato de entrevista no decorrer de um ano, analisando fatores contextuais e individuais. “Apesar de utilizarmos poucos participantes, foram gerados muitos dados, por terem sido acompanhados no decorrer de um ano”, disse Ana.

A pesquisa constatou que é necessária uma resiliência para exercer a profissão. “Buscamos entender como eles exercitam esta resiliência no dia a dia, quais os desafios e o que facilita e dificulta o exercício dessa resiliência”, contou. “Muitos trabalhos focam no desafio mas, por mais que também quiséssemos entender estes desafios, focamos na resiliência em si, esta capacidade que eles possuem de se adaptar, contornar situações e superar as dificuldades”, explica a pesquisadora.

O objetivo também era entender as diferenças e as semelhanças entre contexto brasileiro e o contexto britânico. Os seis professores alvo da pesquisa estavam no início de carreira, com até cinco anos de profissão, considerado um período mais difícil na docência.

 

As diferenças

De acordo com as pesquisadoras, o Brasil possui algumas particularidades: falta de fluência e proficiência dos professores, contratos temporários, dão aulas em outras disciplinas além da Língua Inglesa, a falta de valorização profissional e da disciplina e não identificação inicial com a profissão.

“A maioria dos professores do Brasil não é fluente em Inglês, e isto exige mais deles, que se sentem mais inseguros”. Outra questão é a falta de valorização da Língua Inglesa no currículo. “Eles têm só uma aula por semana, e também precisam dar aulas de outras disciplinas para completar a carga horária”.

Um dos participantes é concursado para Português e Inglês, então ele precisa dar aulas das outras disciplinas para completar a carga horária.

Já as outras duas das participantes eram contratadas, o que gerava outras particularidades.

A pesquisa foi realizada de setembro a setembro, acompanhando o ano letivo britânico, o que permitiu que as pesquisadoras acompanhassem a virada do ano e a possibilidade do vencimento dos contratos das professoras. “É muito difícil para os contratados, pois eles não sabem se terão aulas, além de darem aulas em mais de duas escolas. Em muitos momentos, se questionam se continuarão na profissão”.

Os pesquisados fizeram Letras mas não se imaginavam professores de Inglês, acabaram se tornando por necessidade. “A maioria não se identificava com a profissão, principalmente no primeiro ano, mas a maioria foi se identificando com a profissão e desenvolvendo um sentimento de pertencimento, um senso de vocação, e este senso de vocação ajuda muito no exercício da resiliência”, explicam.

 

As semelhanças

Embora uma das participantes fosse holandesa, a proficiência não era um problema entre os professores no Reino Unido, ao contrário do Brasil. Porém, também havia semelhanças: a solidão profissional, a falta de preparo para a profissão, a ajuda online na busca de material, a busca por melhorias nas aulas e as reclamações sobre os alunos.

“Muitos relataram a solidão: não têm com quem dialogar, não têm apoio das escolas”, conta Ana Carolina. “Outra coisa que reclamavam era que a preparação na graduação não supria as necessidades, algo que nós como Universidade devemos olhar atentamente”, lembra a pesquisadora.

“Outra característica comum tanto aqui quanto lá é que todos recorrem a material online, buscam apoio pedagógico na internet”.

A pesquisa apurou que ambos os grupos de professores estavam sempre refletindo sobre a própria prática. “Eles estão sempre pensando que podem melhorar alguma coisa, sempre buscando melhorar o desempenho.

O comportamento de alunos também gera reclamações nos dois países: falta de interesse na aula e na própria disciplina de Língua Inglesa geram frustação.

 

A parceria

As pesquisadoras se conheceram em um evento internacional e, como ambas estudavam pesquisa narrativa, surgiu a parceria para desenvolvimento de uma pesquisa para participar da chamada do Conselho Britânico. “O Conselho seleciona muitas pesquisas sobre ensino de Inglês no brasil, mas, de acordo com o veredito deles, o que chamou é que, embora eles possuam muitos dados estatísticos e numéricos sobre ensino de Língua Inglesa no País todo, nossa pesquisa traria dados narrativos, algo ainda muito escasso sobre este assunto no Brasil”, contou a pesquisadora.

 

O Conselho Britânico

O projeto é financiado pelo Conselho Britânico (do inglês, British Council), uma organização do Reino Unido especializada em oportunidades educacionais e culturais em âmbito internacional, com o intuito de fortalecer as relações internacionais britânicas.

Com 85 anos de existência, o Conselho atua em mais de 100 países e possui a finalidade de promover um conhecimento mais amplo do Reino Unido e da Língua Inglesa, encorajando a cooperação cultural, científica, tecnologia e educacional com o país.

O projeto é financiado pelo Conselho por meio do Prêmio de Pesquisa em Ensino da Língua Inglesa (em inglês, ‘English Language Teaching Research Awards’, o Eltra), que possui a finalidade de facilitar pesquisas inovadoras relacionadas ao ensino-aprendizagem de inglês ao redor do mundo.

“O processo de seleção do Eltra é bem concorrido. Fico muito feliz por nossa proposta ter sido contemplada, sobretudo, por representar a Unemat em iniciativas de colaboração acadêmica internacional tão importantes como essa”, afirma a professora.

 

As pesquisadoras

Doutora em Linguística Aplicada pela Universidade de Londres, no Reino Unido, Ana Carolina de Laurentiis Brandão também é mestra em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) em Minas Gerais e graduada em Letras com habilitação em Língua Inglesa pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Professora na Unemat, Ana Carolina é membro do Grupo de Estudos sobre Novas Tecnologias na Educação (Gente) da Unemat e do Grupo de Pesquisa e Desenvolvimento em Tecnologias para Inovação Pedagógica da Universidade Federal de Lavras (Ufla) em Minas Gerais. Também foi coordenadora institucional do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) da Unemat em 2018.

Gwyneth James é coordenadora do Mestrado em Ensino de Inglês para Falantes de Outras Línguas da Universidade de Hertfordshire, trabalhando na área de ensino de Inglês para falantes de outras línguas por mais de 20 anos em uma variedade de contextos tanto no Reino Unido quando em outros países, estudando experiências na transição de estudantes e resiliência de professores, bem como o papel da língua, da identidade, da cultura e da música nestes processos.

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